DOUT - História, cotidiano e poder
Código: PHIS0116
Curso: Doutorado em História
Créditos: 6
Carga horária: 120
Ementa: A disciplina pretende discutir a dimensão política da vida cotidiana, tratando inicialmente das contribuições teórico-metodológicas da Antropologia Cultural para a compreensão do cotidiano, no sentido do que esta pode representar em termos de alargamento de horizontes para o historiador. A seguir, a disciplina se volta para o estudo do programa inicial da Escola do Annales e das propostas da Antropologia Histórica, uma vertente recente da historiografia francesa. Discutem-se também as potencialidades e os limites da micro-história para a identificação das relações de poder que se manifestam no cotidiano e que constituem uma modalidade específica de se comunicar com os outros e compreender o mundo, integrando uma rede de sociabilidades por intermédio da qual são produzidas e sustentadas formas tradicionais de convívio. Desse modo, a disciplina contemplará tanto a análise da produção das condições materiais de vida em conexão com as maneiras de sentir e de pensar em um dado período histórico, quanto as representações sobre o social e o político. Estima-se que esteja sempre em discussão questões subjacentes ao individual, ao coletivo, ao particular e ao geral em História. A análise do cotidiano ao longo da disciplina deve abranger tanto os circuitos integrantes da esfera pública como as dimensões da vida privada.
Os princípios teóricos norteadores da disciplina estarão centrados na escola historiográfica francesa que se constituiu a partir da criação da revista dos Annales e de seu programa de renovação na forma de se fazer história, analisando as contribuições de historiadores como Marc Bloch, Lucien Febvre, Fernand Braudel, Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Le Goff , dentre outros. Também serão utilizados autores ingleses, como E. P. Thompson e Keith Thomas, norte-americanos como Natalie Zemon Davies e, em relação à micro-história, principalmente os trabalhos de Carlo Ginzburg. A disciplina também terá como uma das suas preocupações centrais a produção historiográfica sobre o assunto no Brasil, buscando recuperar autores clássicos que podem ser lidos a partir da perspectiva da dimensão política do cotidiano, como é o caso de Gilberto Freyre, apenas para citar um exemplo.
Bibliografia: ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
BURKE, P. Cultura popular na Idade Moderna. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989.
BOUTIER, J. et JULIA, D. (Org.) Passés recomposes; champs e chantiers de l'histoire. Paris: Editions Autrement, 1995.
BRAUDEL, F. Civilisation matérielle économie et capitalisme: XVe-XVIIIe siècles, tomo I, Les structures du quotidien. Paris: Armand Colin, 1979.
____________. Ecrits sur l'histoire. Paris: Flammarion, 1969.
CARVALHO, J. M. de. Os bestializados; o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CASTAN, N. et CASTAN, Y. (Ed.). Vivre ensemble; ordre et désordre en Languedoc (XVIIe-XVIIIe siècles). Collection Archives. Paris: Gallimard/Julliard, 1981.
CHALHOUB, S. Visões da liberdade; uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado; investigações de antropologia política. Porto: Afrontamento, 1979.
CORBIN, A. Les filles de noce; misère sexuelle et prostitution aux XIXe et XXe siècles. Paris: Aubier, 1978.
DARNTON, R. O grande massacre de gatos; e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
DAVIS, N. Z. Les cultures du people; rituels, savoirs et résistances au XVIIIe siècle. Paris: Aubier Montaigne, 1979.
___________. Pour sauver sa vie; les récits de pardon au XVIIIe siècle. Paris: Seuil, 1988.
DIAS, M ª O. L. S.. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1995.
FARGE, A. La vie fragile; violence, pouvoirs et solidarités à Paris au XVIIIe siècle. Paris: Hachette, 1986.
_________. Dire et mal dire; l'opinion publique au XVIIIe siècle. Paris: Seuil, 1992.
FEBVRE, L. Combats pour l'histoire. Paris: Armand Colin, 1992.
FOUCAULT, M. Surveiller et punir; naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1975.
____________. Histoire de la folie à l.âge classique. Paris: Gallimard, 1972.
FREYRE, G. Casa grande e senzala; formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.
GINZBURG, C. Mythes, emblèmes, traces; morphologie et histoire. Paris: Flammarion, 1989.
_____________. O Queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LE GOFF, J. La nouvelle histoire. Bruxelles: Editions Complexe, 1988.
LE ROY LADURIE, E. Montaillou, village occitan - de 1294 à 1324. Paris: Galimmard, 1982.
MANDROU, R. Introduction à la France moderne, 1500-1640; essai de psychologie historique. Paris: Albin Michel, 1974.
RAGO, M. Do cabaré ao lar; a utopia da cidade disciplinar, Brasil 1890-1930. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1987.
THOMPSON, E. P. Senhores e caçadores; a origem da lei negra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
_________________. A miséria da teoria, ou um planetário de erros; uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
VEYNE, P. Comment on écrit l'histoire: essai d'épistémologie. Paris: Seuil 1971.