DOUT - História e Historiografia das representações políticas

Código: PHIS0112
Curso: Doutorado em História
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Ementa: A finalidade da disciplina é viabilizar a reflexão sobre as relações existentes entre produção historiográfica e representações políticas. Marc Bloch frisou ser o gosto pela história parte da cultura ocidental afirmando, ademais, que a história não é uma ciência sobre o passado, mas sobre os homens no tempo. Ao dar tal definição à história-ciência, Bloch igualmente salientou ser a historiografia o resultado de uma prática construída a partir da articulação entre presente, passado e futuro. Embora essas moderadas observações de Bloch nos pareçam, hoje, um lugar comum, o fato é que elas possuem desdobramentos importantes cuja reflexão deve ser ampliada entre os historiadores.
A definição de história de Bloch era uma resposta às críticas feitas aos historiadores e à reflexão histórica de seu tempo. Compreendida como um estudo centrado apenas no passado, inúmeros intelectuais construíram fortes argumentos contra a história e a consciência histórica. Como observou Hyden White (1994), a consciência histórica era vista por muitos como um fardo e uma prisão. Mesmo entre historiadores, encontramos posições semelhantes. Exemplar dessa situação é a crítica feita por Finley (1984) contra uma longa tradição que fez da história a boa serva da autoridade salientando, ainda, que uma das maiores contribuições da historiografia crítica era, justamente, tornar inútil o passado.
Se, por um lado, o reconhecimento das relações entre passado, presente e futuro no processo de produção historiográfica era o início da reabilitação da história como forma de pensamento crítico, por outro lado essa mesma constatação criou novos desafios. A consciência, hoje consolidada, de que a história é um dos recursos produzidos pela cultura ocidental para se pensar a realidade circundante gera, como subproduto, o reconhecimento de uma dimensão política presente na historiografia. No entanto, o tratamento dado a esse problema está muito longe de ter um sentido unívoco. A título de ilustração, basta lembrar as distâncias que separam Chesneaux (1995) e sua historiografia militante de outros tantos historiadores cujas inovações se justificam mais pela via metodológica do que pela reflexão acerca das espinhosas questões teóricas subjacentes à pratica e à pesquisa histórica.
Com a disciplina Historiografia e Representações Políticas procura-se, desse modo, problematizar o papel social e político da historiografia, segundo dois eixos fundamentais. Em primeiro lugar, trata-se de discutir o processo de produção historiográfica e suas implicações teóricas e práticas, considerando-se a profícua reflexão crítica sobre o trabalho historiográfico realizado durante o século XX por historiadores e filósofos, dentre outros pesquisadores das ciências sociais. Em segundo lugar, busca-se o aprofundamento da reflexão sobre as representações políticas presentes na produção historiográfica e sua articulação com o social. Neste ponto, o objetivo é visualizar os projetos sociais implícitos e/ou explícitos nas obras de caráter historiográfico. Sugere-se complementar a reflexão teórica de caráter mais geral com uma reflexão particularizada de algum tema e/ou questão específica, a ser demarcada pelo professor responsável pela disciplina.
Com o desenvolvimento da disciplina, pretende-se que o aluno seja capaz de: a) construir uma visão crítica sobre o processo de produção do trabalho historiográfico; b) discernir representações políticas e construir modelos de interpretação segundo tipologias mais vastas de projetos sociais e c) introduzir a historiografia no fluxo da história, como uma das dimensões do social, do cultural e do político. Segue, abaixo, orientação bibliográfica de caráter teórico abrangente, excluindo-se estudos de caso, uma vez que estes devem ser demarcados pelo professor responsável por ministrar disciplina.
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