DOUT - Estado, Religião e Poder

Código: PHIS0105
Curso: Doutorado em História
Créditos: 6
Carga horária: 120
Ementa: disciplina tem por finalidade introduzir o aluno em uma área de reflexão acerca das modalidades de integração entre poder e religião. Desse modo, a disciplina sugere que sejam analisados, em primeiro lugar, os mecanismos pelos quais se produz a sacralização do poder no interior das sociedades que já se estruturam a partir de uma organização de tipo estatal. O sagrado, ao exprimir algo que, colocado à parte do mundo, concentra em si mesmo a capacidade criadora e ordenadora do cosmos e revela a realidade fundamental de tudo o quanto existe, costuma se associar estreitamente ao poder político, uma vez que desde o instante da sua afirmação o Estado aspira à eternidade. Em segundo lugar, devem ser tratados de modo especial os atributos morais, os atributos materiais e os ritos que cercam os ocupantes de postos de liderança, uma vez que os mesmos, ao encarnarem a existência e a potência do Estado, são os depositários privilegiados da sacralidade presente nas relações de poder. Em terceiro lugar, é necessário que se analisem as conexões possíveis entre os setores religioso e confessional do Estado, como uma forma de se compreender os vínculos entre, por um lado, aqueles que detêm o comando militar e as prerrogativas de legislação e justiça e, por outro, os responsáveis pelo culto, bem como a interferência de um setor sobre o outro. Por último, deve-se considerar também que todo processo de afirmação de uma nova religião insere-se em um deslocamento no decorrer do qual os antigos especialistas religiosos são suplantados pelos novos, o que implica em uma redistribuição das relações de poder simbólicas vigentes em uma dada sociedade.
Em termos metodológicos, sugerimos que a disciplina contemple não apenas trabalhos de História, mas até onde for possível, a produção antropológica sobre o assunto, uma vez que os antropólogos têm se destacado no que concerne à reflexões entre os vínculos possíveis entre religião e poder. De fato, desde a publicação em 1890 de O ramo de Ouro, obra na qual James Frazer investigava as origens mágicas da realeza primitiva, os vínculos entre poder político e religião se constituem como um dos principais objetos de estudos da Antropologia. O trabalho de Frazer, em que pese a sua adesão explícita ao evolucionismo, teve o mérito de estimular uma área de pesquisa que em história rendeu obras célebres tais como Os reis taumaturgos, de Marc Bloch (1924), Reis e deuses, de Henri Frankfort (1948) e Os dois corpos do rei, de Ernst Kantorowicz (1957), as quais procuraram demonstrar em termos históricos o quanto o exercício do poder político em sociedades anteriores ao século XVIII comportava em larga medida elementos de ordem sobrenatural. Na realidade, em nenhuma sociedade, mesmo as contemporâneas, o poder político é completamente imune à sacralização, fato que uma investigação cuidadosa do cerimonial que cerca os líderes de formas de governo tão díspares como as democracias presidencialistas e as ditaduras não deixa constantemente de revelar. Como sugere Geertz (1997:214) ao discutir o carisma que envolve aqueles que se situam no centro do poder, o que morreu em 1793 (até o ponto em que morreu) foi uma certa visão da afinidade entre o tipo de poder que move os homens e o que move montanhas, e não o sentimento de que essa afinidade existe.
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