MEST - Gênero, poder e violência

Código: PHIS0015
Curso: Mestrado em História
Créditos: 6
Carga horária: 120
Ementa: A disciplina tem por finalidade introduzir o aluno em uma área de reflexão acerca da integração entre gênero e poder. A disciplina sugere que sejam analisados, em primeiro lugar, os mecanismos por meio dos quais o estudo de gênero se enquadra como uma categoria de análise histórica. Os estudos de gênero transformam profundamente os paradigmas da disciplina, acrescentam novos temas e impõem uma reavaliação crítica das premissas e critérios do trabalho científico existente. A interdisciplinaridade tem dado atenção especial aos aspectos sociais do gênero na perspectiva histórica, utilizando-se modelos conceituais concernentes às diversas áreas do conhecimento humano. O gênero, ao exprimir algo que, colocado no interior de todas as sociedades, concentra em si mesmo a apropriação das análises historiográficas, engendra métodos e terminologias próprias de análise, estimulando as visões de conjunto e os estudos comparativos. Em segundo lugar, devem ser tratados de modo especial os fenômenos sociais e os atributos morais que cercam o gênero na divisão sexual de poder e de trabalho. A compreensão dessa diversidade permeia os postos de liderança e dá margem à construção de estereótipos, ao mesmo tempo em que permite comparar e visualizar mudanças ao longo do tempo, preservando as nuanças da individualidade na família e nas classes sociais. Em terceiro lugar, é necessário que se analise a intensificação das mudanças sociais com o advento do capitalismo, uma vez que a necessidade maior da força de trabalho feminina dentro e fora do ambiente doméstico provocou tensões que afetaram a estrutura da sociedade, promovendo inúmeros questionamentos sobre a participação da mulher na história e sobre as relações de gênero. Por último, devem-se considerar também os movimentos femininos que buscam romper com os valores tradicionais de feminilização e dar visibilidade à perpetuação da violência contra a mulher, não apenas revelando-a e denunciando-a, mas construindo um panorama da questão de modo a favorecer a elaboração de políticas públicas de proteção e apoio à vítima de agressão conjugal ou pública, por meio da criação de legislação específica, delegacias especializadas em atendimento à mulher e alojamentos que acolham a vítima e seus filhos, dentre outros mecanismos de proteção.

Em termos metodológicos, sugerimos que a disciplina contemple não apenas trabalhos de História, mas, também, a produção interdisciplinar sobre o assunto, uma vez que, não só as Ciências Sociais têm se destacado no que concerne às reflexões entre os vínculos possíveis entre gênero e poder. De fato, desde a publicação da obra LEnfant et la vie familiale sous lAncien Régime, em 1960, na qual Philippe Ariès, sem adotar uma explicação evolucionista e linear de exploração científica, elaborava uma análise iconográfica do poder privado do Ancien Régime francês, diversos estudos surgiram sobre gênero e relações de poder, expandindo o tema pelas diversas áreas que compõem os estudos das Ciências Humanas, Exatas e Biológicas. O trabalho de Ariès teve o mérito de estimular, em particular, uma área de pesquisa que, em história, rendeu obras célebres tais como a História da vida privada (1992), sob a organização de Philippe Ariés e Georges Duby, Elementos para a história da família ocidental (1984), de Michael Anderson, e Teoria crítica da família (1979), de Mark Poster, as quais procuraram demonstrar o quanto o exercício das relações de poder e gênero nas sociedades ocidentais comportam, em larga medida, elementos de ordem histórica. Na realidade, em nenhuma sociedade, mesmo as contemporâneas, as relações de gênero deixam de permear o poder político, fato que uma investigação cuidadosa da perspectiva histórica da tutela que o homem exerce sobre a mulher não deixa constantemente de revelar, tutela essa diretamente relacionada à dependência econômica da mulher para com o homem e à rígida divisão social do trabalho, que se revela pela ordem econômica, e pela manutenção da supremacia masculina em razão do controle do poder político.
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