As narrativas judaico-cristãs sobre o martirológio ashkenazi medieval (sécs. XI e XII): construção e ressignificação do Kidush haShem nas crônicas hebraicas e latinas

Nome: KARLA CONSTANCIO DE SOUZA
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 03/08/2018
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
SERGIO ALBERTO FELDMAN Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANA PAULA TAVARES MAGALHÃES Examinador Externo
LENI RIBEIRO LEITE Examinador Interno
SERGIO ALBERTO FELDMAN Orientador

Resumo: Este estudo discute as influências dos massacres antijudaicos durante a Primeira Cruzada (1096) no processo de transformação cultural e religiosa das comunidades ashkenazim das principais cidades germânicas do Vale do Reno, no Sacro Império Romano-Germânico, a saber: Mogúncia, Colônia, Espira, Vormácia, Tréveris, Metz e Ratisbona. Tais eventos representaram um marco para o judaísmo, pois implicaram em grandes consequências na interpretação ashkenazi sobre os preceitos fundamentais da religião. O auge dessa confluência cultural entre cristãos e judeus deu-se a partir do momento em que os discursos religiosos de ambos se imbricaram, originando uma nova concepção da prática religiosa judaica do suicídio ritual, nomeadamente, o Kidush HaShem. De modo a melhor elucidar o objetivo principal, o texto discute o legado dessa convergência cultural entre as tradições judaica e cristã e suas implicações para o judaísmo medieval, assim como para o próprio cristianismo que, naquele momento, ainda lutava por afirmação dentro da lógica de poder na sociedade medieval. Uma possível consequência dessa convergência cultural para o cristianismo era um processo de inversão, ou seja, os setores clericais da Igreja, contando com a adesão popular, poderiam ter desenvolvido, a partir do martírio judaico, a noção de crime ritual, e, posteriormente, dos libelos de sangue, isto é, acusações voltadas contra os judeus que apareceram de maneira sistemática entre o século XII e XIII, momento das Cruzadas, mas que transpõem este recorte temporal e tem, em um processo de longa duração, seus últimos casos documentados na Rússia czarista, já no final do século XIX. De modo a desenvolver e comprovar as hipóteses aventadas, são examinados, como documentação, um conjunto de crônicas hebraicas, escritas aproximadamente entre o final do século XI e a metade do XII, por três diferentes autores – rabi Salomão bar Sansão, rabi Eliezer bar Nathan, e o Anônimo de Mogúncia –, e uma plêiade de textos latinos, de clérigos que narraram ou comentaram os massacres da primeira Cruzada, ou que relataram, posteriormente, os crimes rituais. Como exemplos, citam-se duas crônicas escritas contemporâneas aos massacres de 1096, de autoria dos monges Bernoldo de Constança e Frutolfo de Michelsberg, e outra escrita entre os anos de 1125 e 1150 pelo cônego e cronista medieval Alberto de Aquisgrão. A partir do exame dessas documentações primárias, à luz da Análise do Discurso proposta pela escola russo-francesa, também chamada de base enunciativa, este estudo realiza uma abordagem sociocultural das representações observáveis nas diversas construções narrativas sobre os eventos e enfatiza o conflito discursivo dentro das esferas que compunham o clero no que concerne à questão judaica. Diante das análises empreendidas, este texto dissertativo conclui que o conflito discursivo parece surgir no entorno da circularidade das ideias em duas esferas: primeiro, nos dois segmentos clericais que defendiam ou contrariavam a violência contra judeus e batismos forçados, representadas respectivamente por setores da baixa e alta hierarquias clericais, e, em segunda instância, na influência religiosa e cultural mútua, bem como na demarcação das identidades e alteridades próprias das relações entre o judaísmo e o cristianismo no Medievo Central.

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