DOUT - Estado, sociedade e práticas econômicas

Código: PHIS0131
Curso: Doutorado em História
Créditos: 6
Carga horária: 120
Ementa: A disciplina tem por finalidade introduzir o aluno no estudo da historiografia sobre as conexões entre a formação do Estado e a economia no Brasil ao longo de sua história. Neste sentido, a disciplina pretende promover o debate entre as diferentes interpretações da formação histórica brasileira. A primeira possibilidade de abordagem da questão gira em torno da organização da empresa colonial, não descurando de criar nexos analíticos entre a historiografia tradicional cuja matriz teórica apóia-se no trinário latifúndio-monocultura-escravidão, conforme Prado Jr. (1999) ou na visão do paraíso, conforme Holanda (1996) e outras modalidades de interpretação da sociedade colonial brasileira, na qual as especificidades das diversas capitanias portuguesas deram margem a múltiplas formações sociais, enquanto as práticas econômicas, a saber, o comércio e a navegação, os aldeamentos jesuíticos e o trabalho indígena todos componentes da inserção da colônia na economia-mundo constituíram o modus operandi político-administrativo da metrópole lisboeta à luz da racionalidade econômica no antigo sistema colonial.

O recorte seguinte baseia-se na problemática da formação do Estado nacional e a inserção do País na esfera de produção e circulação de mercadorias na fase de implantação do capitalismo industrial. Nesse sentido, ganham relevo os aspectos estruturais e conjunturais das transformações políticas e econômicas que interferiram, quer na passagem da Independência para o Primeiro Reinado, quer no advento da República, quando já uma sociedade diferenciada e em processo de mestiçagem emerge da Abolição, resultando no crescimento demográfico das cidades e na instalação da infra-estrutura urbana brasileira através de aporte financeiro do exterior. Finamente, na passagem do século XX para o atual, a análise recai sobre o fenômeno da modernidade, com o rebatimento interno no planejamento de políticas públicas eficazes e na ação do Estado brasileiro. De fato, a persecução da industrialização em marcha forçada como meta de modernização da sociedade impôs novos desafios de conformação urbana, e a economia do campo se diluiu no produto bruto da nova sociedade brasileira.

Em termos teórico-metodológicos, a bibliografia a ser utilizada extrapola o campo da História Nacional, para o qual publicações clássicas como as de Holanda(1996), Boxer (2002) e Novais (1990) cumpriram o papel de fornecer um importante viés interpretativo, e incorpora trabalhos voltados para a investigação das realidades regionais, como os de Ribeiro (2008) sobre a administração fiscal do comércio exterior do Espírito Santo desde o surgimento da capitania, ou Siqueira (1994), em que se problematiza a economia cafeicultura brasileira no século XX para discutir a importância do Porto de Vitória na análise da montagem da infra-estrutura econômica de viés capitalista no Brasil. Por outro lado, obras que se propõem a analisar a sociedade e economia brasileiras sob uma perspectiva ampliada também deverão ser contempladas, como as publicações de Fragoso e Florentino (1993), Berman (1999) e Bosi (2006), que são referência na percepção das estratégias políticas de acumulação de capital, de regulação das demandas sociais e do enfrentamento dos dilemas da modernidade em sociedades e economias periféricas subordinadas, como a que vemos surgir no Brasil.
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